TERRAS DE PENAGOYÃ:

Apesar de nos tempos de hoje não ser uma realidade correspondente ao que era no passado, defendo a sua promoção e estudo. Porque a nossa história deve ser estudada, preservada e publicitada.
SE NÃO DEFENDERMOS O QUE É NOSSO, QUEM É QUE O DEFENDE?
"

Por Monteiro de Queiroz, 2018

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O Dicionário que é nosso,
por Frei José Jesus Cardoso

"EXPRESSÕES DA NOSSA TERRA

Para chamar:

O Gato ----- Bichinho, bich, bich!
O Cão ----- Boca!
Para enxotar galinhas ----- Xô pitas! Xô!
Para enxotar o gato ----- Sap gato!
Para enxotar o cão ----- Fora cão!
Para concordar sem certeza ----- Estou que sim!
Para discordar sem certeza ----- Estou que não!
Para significar Talvez ----- Acho que!
Para significar ou seja ----- Quer-se dizer!

PEQUENO VOCABULÁRIO LOCAL

Atupir ----- Cobrir a terra
Azangar ----- Saltar por cima de…
Arrais ----- Homem que conduzia os barcos rebelos.
Barqueiro ----- Homem que levava o barco.
Botar ----- Pôr (deitar)
Botelha ----- Abóbora.
Bufar ----- Soprar
Bulhar ----- Zaragatear.
Bulha ----- Andar à tareia
Cardanheiro ----- Homem rude, do campo.
Cavador ----- Homem que cava a vinha.
Cambado ----- Uma pessoa que anda torta.
Cambo ----- Pau que serve para puxar ramos de árvores.
Candeia ----- Luz de petróleo ou de azeite.
Chamiça ----- Pequenos ramos e restos de plantas.
Chuço ----- Pau aguçado para plantar couves.
Colmo ----- Molho de palha de centeio.
Capão ----- Pequeno molho de vides cortadas.
Espanpar ----- Tirar folhas nas videiras.
Engaço ----- Ancinho.
Entrudo ----- Carnaval.
Enxergar ----- Ver, olhar.
Estrugido ----- Refogado.
Feitos ----- Fetos.
Forcado ----- Forquilha em pau com forma de (V).
Fumega ----- Deitar fumo.
Fumeiro ----- Local onde se defumam os salpicões.
Foice ----- Cutelo, enfiado num pau para cortar silvas.
Gasalho ----- Cogumelo.
Gavela ----- Pequeno molho de lenha.
Gadanha ----- Concha para tirar o caldo do pote de ferro.
Granjeio ----- Fazer o trabalho da vinha.
Loja ----- Curral do porco.
Lamparina ----- Luz de azeite.
Luze-cus ----- Pirilampos.
Maias ----- Flores de giestas amarelas.
Magnórios ----- Nesperas
Meda ----- Montão cónico (lenha, estrume, .etc.).
Nena ----- Boneca de pano.
Nanar ----- Dormir.
Peneireiro ----- Milhafre.
Pilheiro ----- Lugar para guardar lenha.
Pinchar ----- Saltar.
Pita ----- Galinha
Pular ----- Saltitar.
Pote ----- Panela de ferro com três pernas.
Roga ----- Grupo de pessoas para a vindima.
Redrar ----- Cava pouco profunda para tirar as ervas
Saltarico ----- Gafanhoto.
Sardanisca ----- Lagartixa.
Cegada ----- Ceifa.
Ceitoira ----- Foice.
Sertã ----- Frigideira.
Socos ----- Tamancos.
Soquetes ----- Meias de mulher.
Testo ----- Tampa da panela.
Vencilho ----- Atilho, feito de vime ou vide.
Varrido ----- Louco.

Tudo farei o que estiver ao meu alcance. Quem conhecer mais diga!"

Frei José Jesus Cardoso - OFM.

http://cardoso-penajoia.blogspot.com/2010/02/pequeno-vocabulario-de-penajoia.html [18.abr.2020]

Lugar do Moledo,
Penajoia, Lamego

PENAJÓIA - MOLEDO

O Lugar do Moledo, é célebre pela sua antiguidade. Fica no fundo da Serra do Vilar e sobre a margem esquerda do Douro. Por ela passava a antiga estrada que seguia para Lamego por Santiago e para Mesão-Frio, na outra margem do rio.

A Rainha D. Mafalda, esposa de D. Afonso Henriques, mandou erguer no lugar do Moledo uma capela, uma Albergaria ou Hospital com botica, tudo gratuito, para pobres e ricos. Havia uma barca de passagem, chamada do Moledo ou de “por Deus”, por ser também gratuita para todos.

Nos princípios do século XIX, ainda a Barca, a Albergaria e a Capela do Moledo tinham um Juiz, que era eleito e nomeado pelo Senado de Lamego. A barca já não era “Por Deus”, mas “por dinheiro” e ficou assim, a pertencer à Câmara de Lamego a administração das barcas do Moledo, Carvalho e Bagaúste, por Portaria do Ministério do Reino, em 1843. A partir daqui se estabeleceram regulamentos. As barcas não podiam ter menos de setenta palmos de “de ôca de ré à ôca d’avante”, e a tripulação, em “rio alto” não teria menos de seis homens e em “rio baixo” 3. O barqueiro era obrigado a passar os utentes desde o romper do dia até ao fechar da noite; e aos militares em serviço e aos correios, a toda a hora. Fixou-se, nessa altura, uma tabela de preços das passagens: por pessoa dez réis; por cavalgadura carregada ou descarregadas vinte réis, por carro de bois e carga, ou sem ela cem réis.

Por cinquenta centavos ainda eu passei na barca do Moledo e, como eu, muita gente que ainda vive. E quanto eu gostaria de ver os Barcos Rebelos, com as grandes velas cheias de vento e homens em ceroulas no alto da caranguejola, subindo as águas do Douro! Estes barcos que foram impedidos pelas barragens.

O Hospital ou Albergaria é de propriedade particular. A Capela é pública e melhor que algumas Igrejas. No seu frete, tem as armas dos Reis de Portugal, como protesto permanente contra quem acabou com tão santa instituição – no dizer de Pedro Augusto Ferreira, nosso conterrâneo do século passado, de que tanto se falou aqui. Tem este lugar algumas casa de beleza arquitectónica em ruínas que foram pertença do Dr. João Cardoso Ferraz de Miranda, oficial distinto da Secretaria dos Negócios do Reino. Neste lugar nasceu Frei José de Penajóia, Franciscano, ex-leitor de Teologia e que foi Provincial dos Franciscanos na Província da Soledade entre 1783 a 1786, embora pouco se saiba acerca desta figura da Ordem Franciscana.

Existiu nesta povoação a família dos Camellos, tristemente célebre pelos excessos de toda a ordem que praticavam, ferindo, matando e roubando. O último dos irmãos, João Camello, não era assaltante, mas não era melhor que os outros irmãos. Deu muita pancada, tiros e facadas, quase sempre por motivos insignificantes ou agravos imaginários. Esta aldeia, rica de tradições, é muito conhecida pela barca; rio e paisagem entram na nossa alma, não como paisagem, mas como sentimento.

As casas velhas têm os degraus de pedra voltados para o rio, onde vinham apanhar os peixes presos pelas guelras. A vida do Moledo è feita de pequenos nadas, mas a todos encanta com o ar que lá se respira.

Frei Jose Jesus Cardoso, OFM.

in http://cardoso-penajoia.blogspot.com/2008/05/penajia-moledo.html [18.abr.2020]

Barcas da Passagem
no Douro do Séc XVI

Barcas da Passagem no Douro em 1531/1532, por Ruy Fernandes, cidadão de Lamego:

- Barca de Bagaúste
(actual Bagaúste, Lamego - Bagaúste, Canelas, Peso da Régua), do Bispo de Lamego;

- Barca da Régua
(actual Peso da Régua - Torrão, Lamego), do Bispo do Porto e do Infante D. Fernando;

- Barca do Carvalho
(actual Carvalho, Lamego - Fontelas, Peso da Régua), privada de uma Quinta, Lamego;

- Barca do Moledo
(actual Moledo, Penajoia, Lamego - Quinta da Barca, Granjão, Mesão Frio), de "Por Deus", instituída pela Raínha D. Mafalda, Rainha de Portugal entre 1146 - 1157;

- Barca do Bernardo
(actual Quinta do Bernardo?, Mesão Frio - Barro, Resende), privada de uma Quinta, Mesão Frio;

- Barca de Porto de Rei
(actual Porto de Rei, Resende - Porto de Rei, Mesão Frio), de "Por Deus", instituída pela Raínha D. Mafalda, instituída pela Raínha D. Mafalda, Rainha de Portugal entre 1146 - 1157.
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"Das barcas da pasagem.

Item no dito compaso no dito douro pasam 6 barcas de pasagem, que sam as seguintes: baguauste, que he de Vossa senhoria; a regoa, que he do bispo do porto, e do Ifante dom fernando; o carvalho, que he de húa quintã; o moledo, que foy posta polla Rainha dona mofalda; o bernaldo, que he de húa quitã; a de porto de rey, outro sy feita polla Rainha dona mofalda. As quaaes barcas do moledo, e porto de Rey, a dita Rainha mandou poer, e leixou certas quimtaãs e casaes pera mantença dos barqueiros, que pasam as ditas barcas, sem levarem dinheiro, por grande nem fora de marca que o douro váa; e tem dous mil reis de penna, e da cadêa, se se provar pedirem elles dinheiro a algua pesoa. Toda via se lho querem dar os que pasam por cortesia, mas nom que o peçam: na barca do moledo leyxou a dita Rainha hum esprital, em que manda que dem cama, e fogo, e sal, e agoa aos caminhantes; e a governança do dito sprital, e barca pertence a esta cidade."

in DESCRIPÇÃO DO TERRENO
EM RODA DA CIDADE DE LAMEGO DUAS LEGUAS;

Suas producções, e outras muitas cousas notaveis: dirigida ao Sr. D. Fernando, Bispo da dita Cidade, Primo de ElRei, e seu Capellão Mor; e feita por Ruy Fernandes, Cidadão da mesma Cidade, e Tratador das lonas e bordatas de ElRei, no anno de 1531 para 1532.

in Collecção de livros ineditos de historia portugueza: Acenheiro, C. Chronicas dos Senhores reis de Portugal. Foros antigos dos concelhos de Gravão, Guarda, e Béja. E. descripção do terreno em roda da cidade de Lamego, pág.s 562 e 563
Academia das Ciências de Lisboa
The Academia, 1824